Mas no caminho encontra dois bandidos que, para sair da cadeia, bolam um plano miraculoso: uma roupa feita com um tecido muito especial, que só os inteligentes podem ver.
A versatilidade da montagem, toda feita em versos cuidadosamente inspirados na tradição dos cordéis nordestinos, permite a sua adaptação tanto a espaços abertos – como praças, feiras e coretos – como a espaços fechados –teatros e escolas.
Meus queridos moradores
Desta tão bela cidade
Peço a atenção de todos
Com a mais pura humildade
Para mostrar os sintomas
Da doença que é a vaidade
Os primeiros versos do espetáculo “A Roupa Nova do Rei” já transmitem a idéia que permeará toda a trama teatral: uma crítica à vaidade extrema e à perda da individualidade diante de uma sociedade marcada pelo consumo exacerbado. O texto, escrito em versos rimados, é uma adaptação do clássico conto escrito por Hans C. Andersen para espaços públicos de Brasília. Nele, vários estilos de versos, como sextilhas e mourão, fazem uma homenagem aos cantadores, repentistas e cordelistas brasileiros.
Por meio de uma linguagem universal, com classificação indicativa livre e praticidade no deslocamento para ambientes variados, a montagem tem o objetivo de levar entretenimento e reflexão sobre a vaidade extrema à toda comunidade. De crianças a adultos, independentemente da classe social, todos serão tocados por essa proposta, originalmente escrita há 150 anos, que mescla a música, o circo e a cultura popular numa empreitada teatral adaptável de palcos às escolas, passando por lugares públicos.
Quando hoje, a humanidade aceita cada vez mais, que o corpo está acima da moral, que a força sobrepõe o conhecimento, que a estética está acima do intelecto e o belo deve seguir um padrão imposto pelo mercado, torna-se fundamental a discussão e a reflexão sobre a vaidade exacerbada. A preocupação expressada pelo texto, de reis que gastavam fortunas com roupas, castelos e uniformes só para impressionar outros reis, encontra espelho nos dias de hoje, na era do diet, da cirurgia plástica e da ditadura da imagem.
Aprenda com sua alteza
Casa, o povo não precisa
O Importante é camisa
Mas de seda javanesa
Sai com sua avareza
Se o povo se alimentar
No que vai melhorar?
Eu sei onde investir
Importante é o rei vestir
Linda pele de jaguar
O povo não via roupa
Nenhuma na majestade
Mas ninguém tinha coragem
De dizer o que é verdade
É que eles também eram
Escravos dessa vaidade
Além da vaidade extremista, outros temas não menos importantes são discutidos no espetáculo, como o dever do Estado e a apatia social. Na primeira estrofe acima, por exemplo, um fato corriqueiro em nossa cultura: o governante que coloca o povo a serviço do Estado, e não o Estado a serviço do povo. No segundo, a imobilidade popular diante da situação patética. O espetáculo propõe uma discussão sobre essa inversão. Por que, por exemplo, aceitamos a imagem e o carisma de políticos em detrimento de propostas e projetos? Quais os limites entre o belo e o narcisista?